Insights

E se os profissionais de RP fizessem greve?

6 Fevereiro 2023, By Inês Teixeira, Senior Account Executive na Canela

Através dos dados da DGERT, é fácil percebermos que 2022 foi um ano pautado por greves de diferentes setores com destaque para o setor dos transportes e armazenagem (33%), e 2023 não será diferente. 

A verdade é que nos alarmamos assim que ouvimos a palavra GREVE porque sabemos que, de alguma forma, isso nos vai afetar a rotina:

– Greve dos funcionários públicos? Vamos buscar a lista mental das pessoas com quem podemos deixar os miúdos. 

– Greve dos transportes? Fazemos contas de cabeça para adiantar os despertadores e rezamos para conseguirmos chegar ao trabalho (caso não tenhamos a possibilidade de trabalhar remotamente)  

– Greve na aviação? “Por favor que não afete o meu voo que eu já tenho tudo marcado!”

Todos sabemos que as greves podem ser desagradáveis, mas demonstram claramente a importância dos trabalhadores de certos setores na nossa vida quotidiana e recordam-nos as razões pelas quais nos devemos preocupar com eles. Imaginemos então um mundo completamente fictício em que os profissionais de relações públicas e comunicação entraram em greve. Intrigados com esta questão, decidimos levar-nos pela nossa imaginação.

1. Os Jornalistas

No início os jornalistas poderiam dar conta de uma caixa de e-mail mais desafogada e de um telefone menos ativo e até poderiam, durante uns dias, apreciar esse silêncio. No entanto, essa simbiose entre o trabalho de jornalismo e de relações públicas cria uma enorme mais-valia para ambas as profissões. 

Se, durante uns tempos, os profissionais de relações públicas não fizessem o seu trabalho, as marcas iriam sentir necessidade de entrar em ação e contactar, elas próprias, os jornalistas. O filtro que é feito pelos consultores de comunicação iria deixar de existir. Conseguem imaginar? De uma caixa de e-mail mais desafogada passavam a ter uma amálgama descontrolada de comunicados de imprensa, folhetos informativos e newsletters. 

Muitas vezes os departamentos de comunicação das marcas vivem na sua bolha e não conseguem entender que nem toda a informação é relevante, nem toda a informação deve chegar a todos os meios e nem toda a informação deve ser divulgada em massa. Hoje, um pitch personalizado, um exclusivo ou uma entrevista especial têm mais força e impacto do que resultados medidos de forma quantitativa. E é aí, nessa passagem da informação que tanto os clientes como os jornalistas vão pedir para que termine a greve. 

Por outro lado, os jornalistas, embora por vezes não o saibam, têm nos consultores de comunicação os seus melhores aliados. Os consultores pesquisam o trabalho dos media e valorizam-no, pedindo proativamente aos seus clientes que forneçam informações e oportunidades relevantes, tais como entrevistas ou artigos de opinião. É justo dizer que muito, se não a maior parte, do conteúdo dos meios de comunicação depende da colaboração de agências e departamentos de comunicação.

2. As marcas

Em primeira instância, o recurso aos profissionais de relações públicas, tanto in house como outsourcing, advém de uma necessidade específica de criar uma estratégia que crie uma ligação entre a marca, e aquilo que ela tem para dizer, com os meios de comunicação, e por consequência com o seu público-alvo. Hoje em dia, além disso, já existe um enorme leque de caminhos por onde as marcas podem ir para chegar ao seu público, e mais uma vez, é essencial que sejam profissionais experientes na área que alinhem essa estratégia: o quê, como, onde e quando devemos comunicar. 

Já não faz sentido comunicar apenas os produtos ou serviços que as marcas têm para oferecer. É necessário dar a conhecer os valores das empresas, quem está por trás de todo o sucesso e, essencialmente, oferecer informação que seja útil para a vida das pessoas

Perante uma greve dos profissionais de relações públicas, chegar ao público-alvo seria uma montanha russa de tentativas e erros prejudiciais para a imagem da marca. A inactividade dos profissionais da comunicação deixaria as marcas e organizações sem um elemento fundamental: a divulgação não publicitária das suas mensagens, bem como o seu valor acrescentado para a sociedade.

3. O público

A maioria das pessoas não sabe  que a maior parte dos peritos que vê na televisão ou lê nos artigos dos jornais – seja um CEO de uma empresa ou um alto cargo do Governo – é o resultado de vários profissionais de relações públicas que trabalham nos bastidores. Apesar  de todo o media training que é dado para que a informação seja passada da forma mais percetível possível, posicionar as pessoas como líderes de opinião nem sempre é tarefa fácil.  Quando é conseguido, aquilo que elas aportam para a sociedade e para o conhecimento público é muitíssimo relevante. 

Pessoas diferentes têm posições distintas sobre um determinado tema. Ouvir diferentes perspetivas faz com que possamos estar mais informados e utilizar o nosso livre arbítrio para criar uma opinião pessoal. Se os profissionais de relações públicas não fizessem o seu trabalho, estariam a reduzir a quantidade de informação que é transmitida e a limitar o conhecimento da população. 

Sejamos honestos e valorizemo-nos: os profissionais da comunicação são atores importantes no fluxo de informação relevante para a sociedade. Se entrássemos em greve, a sociedade como um todo sofreria as consequências. Concorda?