O seu negócio tem mais em comum com um horta do que parece, Parte 2

Este #CanelaInsights é a segunda parte de um texto onde Deborah Gray, Fundadora e Managing Director da Canela, partilha as valiosas lições que a jardinagem pode ensinar a todos os líderes. Na primeira parte aprendemos sobre o espaço que tanto as empresas como os colaboradores precisam, bem como a necessidade de existirem colegas de equipa (e plantas num jardim!) para se complementarem uns aos outros.
Leia a parte um aqui.

Planeie a sua atividade para cada estação

Se tudo correr bem, o verão é uma época abundante para se ter uma horta. Muitas das vezes de manhã, antes do trabalho, e depois novamente ao final do dia, ou, como qualquer trabalhador doméstico se poderá identificar, entre as chamadas Zoom, colhemos tomates, cebolas, feijões e courgettes. Isto é ótimo porque não só nos alimenta como também temos excedentes que podem ser congelados, enlatados ou oferecidos a amigos e familiares ou, melhor ainda, aos bancos alimentares locais. No inverno não é tão frenético. Existe um ritmo diferente no inverno, mas acontece por um motivo: o solo precisa de descansar e as perenes (plantas que florescem por mais de dois anos) também precisam de descansar, reagrupar e armazenar energia para a próxima época de crescimento. O inverno oferece uma merecida pausa para os jardineiros: há menos trabalho físico de jardinagem o que permite outro tipo de tarefas como rever o que cresceu bem este ano e porquê, escrever planos de cultivo para o próximo ano, separar a caixa das sementes, reparar cercas, ver o sistema de irrigação e a pilha de compostagem, etc. 

As empresas também têm os seus tempos frenéticos e os mais tranquilos e, por isso, é essencial planear tendo em consideração estes timings. O meu negócio é de relações públicas e o período do regresso às aulas até ao Natal é notoriamente frenético devido à calma existente durante o verão, seguida de uma absorção de todos os que desejam gastar os seus orçamentos antes do final do ano financeiro. Isto torna-se ainda mais complicado pelas oportunidades mediáticas promovidas pelo Halloween, Black Friday e, claro, as campanhas de Natal. Não sobra margem, no dia de ninguém, no período de regresso às aulas e, para tirar o máximo proveito da equipa, é essencial não entregar a ninguém tarefas ou projetos desnecessários que podem ser transferidos para uma época menos movimentada do ano. Por outro lado, o segundo trimestre (abril a junho), para nós, é um período tranquilo. Sabemos que é quando a nossa receita é a mais baixa e planeamos com antecedência para isso mesmo. Sabemos que este é um bom momento para formações, planear com clareza o próximo ano discal e erasmus de colaboradores entre escritórios ou com as nossas agências parceiras. 

Faça algo bonito porque pode

Sou uma aspirante a locavore (uma pessoa que só come alimentos cultivados ou produzidos por si ou na sua área local). O meu principal interesse na horta é cultivar alimentos que possam ser consumidos pela minha família. No entanto, também criei um ambiente de cultivo no qual outras plantas podem florescer. Seria uma pena não aproveitar isto para cultivar algo bonito que pode não ser necessariamente consumido, mas que pode servir para atrair polinizadores ou apenas para ficar algo simplesmente bonito. Afinal, os olhos também comem. 

Da mesma forma, os líderes podem utilizar as suas equipas e estruturas que construíram para fazer algo que não traga necessariamente algum benefício comercial. Podemos emprestar o nosso espaço do escritório a ONGs ou outras organizações que não tenham acesso ao espaço de trabalho que necessitam. Pode fazer com que a sua equipa participe em iniciativas voluntárias como plantar árvores ou trabalhar com refugiados ou sem abrigos. Não trará nenhum benefício comercial para a empresa mas será uma ótima experiência de união para a equipa e, afinal de contas, não podemos medir tudo por lucros e perdas. 

Experimentar: Falhar: Aprender

Li online sobre uma antiga técnica chinesa de irrigação para tomateiros. Bloqueie um orifício de drenagem num vaso de cerâmica e enterre-o no solo ao lado dos tomateiros e, de seguida, encha o vaso com água. A água vaza por osmose e regará diretamente as raízes da planta. Na época passada eu investi muito e experimentei esta técnica. Falha épica. Todos os meus tomateiros, cuidadosamente cultivados a partir de sementes, nem chegaram à fase de florirem. Tudo o que este método fez foi atrair muitas lesmas.   

Este ano os meus tomateiros estão a crescer ao lado de um sistema de irrigação automatizado como todas as minhas outras plantas. Aprendi a lição. Nos primeiros dias do meu negócio, durante a recessão global de 2008/9, apesar de ser uma agência de tecnologia de consumo, tentámos montar um departamento de comunicação de moda. Criámos um showroom e passámos horas a fio a ligar e a enviar emails para as diversas marcas de moda. Os resultados foram insignificantes, apesar da quantidade de horas investidas, tendo em consideração que tínhamos pouco para mostrar. Decidimos desistir e voltar ao core business. Assim que nos concentrámos no que melhor sabíamos fazer, o nosso negócio começou a crescer outra vez. 

Depois de delinear a estratégia, agarre-se a ela  

A menos que tenha hectares e hectares de terras agrícolas, a maioria das pessoas, como eu, precisa de trabalhar consoante as restrições de uma certa quantidade de m2 para plantar os seus vegetais. Isto significa tomar algumas decisões difíceis sobre o que crescer e quando. Só podemos plantar uma certa quantidade dentro de um determinado espaço e para uma determinada estação. Depois de tomar essas decisões, seja paciente e cumpra o plano, caso contrário, o seu jardim será um caos. 

Da mesma forma com os negócios, se tiver um conjunto finito de recursos, tanto em termos de equipa como de dinheiro, depois de definir os objetivos para o ano, mantenha-os. Pode levar tempo para que as coisas funcionem da forma como quer, mas precisa de ser capaz de confiar que as coisas estão a caminhar na direção certa mesmo que, inevitavelmente, as coisas demorem mais tempo do que gostaria. Não adianta cavar uma semente para ver se ela está a germinar ou não, pois vai acabar por matá-la. Precisa apenas ter paciência e esperar que as folhas da semente subam pelo solo. O mesmo vale para um plano de negócios: seja paciente e cumpra-o, mesmo que as coisas demorem mais tempo do que gostaria. Se criou o ambiente certo e planeou com antecedência, salvo exceções como guerras e pandemias, certamente obterá os resultados desejados.

Conclusão

A natureza é uma coisa maravilhosa. As sementes colocadas no solo, depois de regadas, darão folhas e, com a quantidade certa de água, luz solar e fertilizantes ocasionais, elas crescerão de forma saudável e feliz, e serão uma fonte de alimento para si, para a sua família e comunidade, bem como para insetos e pássaros. (Como os pombos amam os meus repolhos). Feijões, pepinos, melões (sim, até melões), ervilhas e tomates apressam-se a crescer em direção ao céu. Eles fazem flores que as abelhas e outros insetos vêm e polinizam, os pássaros comem as sementes e espalham-nas. Pode criar um ambiente onde as plantas possam florescer, e porque as plantas florescem, também os insetos, os pássaros e a sua própria família, amigos e comunidade o fazem. 

O ambiente de trabalho é muito semelhante à natureza. Líderes que fornecem a combinação certa de orientação, formação, autonomia, espaço para falhar e capacidades complementares, dentro de uma equipa, estarão a replicar a natureza e a fornecer as condições ideais para o crescimento dos seus membros. Criar um ambiente que prioriza as pessoas significa que cada membro da equipa terá a oportunidade de alcançar o céu. 

Feliz plantação.