“O que vemos hoje na televisão?” A pergunta com a qual os nossos pais não perdiam tempo
A escolha do conteúdo audiovisual envolve um diferente tempo de decisão para cada utilizador. Antes da chegada das plataformas VOD (Video On Demand), bastava que os telespetadores se sentassem no sofá e premissem o botão vermelho do comando à distância para ligar a televisão, uma vez que o horário da programação era imposto. E embora hoje em dia todos os programas, séries e filmes sejam de fácil acesso, durante décadas essa foi a única forma de consumir conteúdo em casa.
Esta indústria também cedeu ao fenómeno do imediatismo, já que a Netflix, HBO, Prime Video e tantas outras plataformas ganharam espaço no mercado – permitem-nos ver o nosso conteúdo favorito onde e quando quisermos. Acabaram-se os meses de espera para ver como a série terminou porque – “uau!” – ficou disponível toda a temporada e, claro, não temos que comprar ou alugar mais filmes porque também os podemos ter com apenas alguns cliques. Mas face a este “plano perfeito”, com uma oferta esmagadora nos catálogos, começámos a perguntar-nos: “e hoje, o que é que vamos ver?”.
A indecisão de que a Netflix já tem conhecimento
De acordo com um relatório Nielsen, um adulto dedica em média 7,4 minutos durante o dia a decidir o que ver nos serviços de streaming, o que equivale a um total de 45 horas por ano. Por outras palavras, leva-nos quase tanto tempo a tomar um duche como a percorrer os catálogos das plataformas que subscrevemos. Acabar de passar por todas as sugestões e não conseguir decidir nada é, de facto, um hábito muito comum. A Netflix sabe disto, razão pela qual já lançou um canal com programação linear. Por enquanto, só está disponível em França, desde novembro do ano passado.
Embora o caminho natural para a televisão gratuita seja transformar o seu conteúdo em formatos on-demand, a Netflix, nesta ocasião, voltou às origens e adotou a estratégia contrária. É uma forma de tomar decisões pelo utilizador e uma estratégia para poder divulgar o seu novo conteúdo, que se adequa aos utilizadores que não têm vontade de procurar conteúdos nesse dia aceitando o fator surpresa e confiando nos critérios do fornecedor. O projeto da empresa americana ainda está em fase de testes – quem sabe se funcionará apenas como piloto ou se será uma aposta a longo prazo.

A evolução das plataformas em Portugal
A televisão gratuita enfrenta constantes desafios e tem feito um longo caminho no sentido de manter a sua audiência e conquistar o público mais jovem. No entanto, a realidade é que, apesar do consumo de televisão tradicional ter aumentado ligeiramente com a pandemia, as plataformas de streaming pagas continuam também a crescer e a passar à frente das televisões tradicionais.
Portugal apresenta 14 serviços de televisão por subscrição por streaming e cerca de 1,4 milhões de subscritores. No topo do pódio está a plataforma Netflix que, segundo o Observatório Europeu do Audiovisual (OEA), foi considerada a plataforma líder do mercado de streaming em Portugal. De acordo com o OEA, os três operadores VOD com maior notoriedade no mercado de streaming português são a Netflix (47%), a AppleTV (21%) e a Amazon Prime (13%).
A mudança no consumo televisivo é inegável, embora ainda haja algumas incógnitas quanto às preferências dos telespetadores. Um modelo acabará por predominar o outro? Ou será um híbrido? Que fórmula infalível usaremos para decidir o que vamos ver todas as noites? Não sabemos a verdade, mas, como sempre na Canela, vamos ter nas nossas mãos no comando da televisão, e estar atentos ao que pode acontecer nos nossos ecrãs.