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Será o Web Summit a próxima Coachella?

4 Novembro 2019, By Vera Costa Pereira

Por Vera Costa Pereira, VP of Business Development na Green Innovation Group A/S

O título deste artigo pode parecer confuso. Na realidade, são eventos muito MUITO diferentes, por isso como poderá o Web Summit estar a aproximar-se do Coachella?

A resposta a essa pergunta é simples, o Coachella representa o derradeiro festival de verão, no qual qualquer influencer digital quer estar e onde qualquer marca ambiciona promover-se – hastags, publicidade, etc. A cacofonia do Marketing é tão alta que se sobrepõe à música e aos artistas.

Vemos metade do mundo a descolocar-se para Los Angeles, mas serão eles que importam para a indústria da música?

Na minha opinião, parece que o Web Summit perdeu a essência que nos chamou a atenção. Sim – Start-ups, Empresários, Investidores, Fundos de ações privadas, Investidores de Risco, Investidores providenciais… Serão estes os catalisadores do crescimento económico e do investimento em Portugal? Será que estão a atrair capital suficiente? Ou estará Portugal a comprar um produto de 11milhões de euros/ano para fomentar o Marketing e Turismo durante os próximos nove anos?

Sabemos que entre 3 e 10 de novembro de 2017 e 2 a 9 de novembro de 2018, os hóspedes Airbnb apenas gastaram – entre acomodação, serviços e refeições – cerca de 50 milhões de euros em Lisboa, segundo os dados da própria empresa.

Também sabemos que já não nos lembramos da grande maioria das start-ups que participaram em 2017 ou em 2018, ou pelo menos eu não me lembro. Mas para continuar com este artigo, vamos focar-nos no ano de 2017, onde estarão agora as start-ups que participaram nessa edição?

Escolhi investigar a 4Geo, na altura anunciada como uma das 12 favoritas, no entanto basta uma espreitadela nas suas redes sociais para ver que nada mudou. Ainda estão a lutar na batalha das start-ups, onde está o investimento? Ou as oportunidades?

Farmcloud foi um dos participantes que tive o prazer de conhecer antes, muito talent e um conceito muito interessante. Quando lhes perguntei sobre a sua participação no Web Summit, a resposta foi clara: toneladas de Marketing e RP, mas em relação ao negócio em si, nada aconteceu.

No entanto, eles ainda acreditam no evento, tanto que irão estar presentes novamente na edição de 2019.

Esta lista é infinita: FacestoreDoInnCuckuuChilltime, ProdsmartLapa Studio, entre muitos outros enaltecem as oportunidades de network, marketing e RP.

Canela

Mas, onde está o tal promissor investimento nas Start-up?

Numa entrevista ao jornal Público, Ricardo Lima – responsável pela equipa que acompanha o crescimento das start-up no evento – confirmou que os KPI referentes ao investimento foram atingidos com sucesso, MAS nem o Web Summit, nem outros elementos do grupo podem ficar com os créditos.

Os resultados financeiros do investimento português no ecossistema não são claros, pelo menos não para a minha análise.

As start-up têm as mesmas lutas que antes, grande parte do capital investido não fica no país durante muito tempo (5 anos no máximo), e as oportunidades de trabalho criadas pelo próprio Web Summit são maioritariamente de foro voluntário.

Por isso, o que é que Portugal ganha com o evento? A resposta é muito simples: mais de 45 milhões de receita pura, em apenas quatro dias e toneladas de publicidade gratuita – o catalisador do crescimento do turismo em Portugal nos últimos anos. De acordo com um estudo da Deloitte para a Associação de Turismo de Lisboa, durante 2017, apenas a capital gerou – direta ou indiretamente – mais de 13.7 milhões de euros só com os turistas.

Devido ao fluxo de estrangeiros, o mercado imobiliário disparou com um aumento da procura de alojamentos de curta duração a preços exorbitantes, desencadeando uma nova corrente de receita para os proprietários.

Provavelmente, a este ponto, estará a pensar onde se encaixa o típico cidadão português que tem um trabalho normal e um salário mediano? Como encara ele este crescimento económico?

Tendo em conta que o salário médio em Lisboa é de 1.000euros/mês, e a renda – em localizações não assim tão boas – de um pequeno T1 anda à volta dos 830euros/mês, a matemática torna-se simples. Vemos famílias inteiras a viver num quarto de uma casa partilhada.

O Web Summit pode ter colocado Lisboa no radar das start-up, com um crescimento de 2.193 empresas para 3.214 entre 2016 e 2018, segundo dados da Startup Portugal, que por sua vez se traduziram num aumento de 24% de oportunidades de emprego, em 2018, bem como de incubadoras – 153 no mesmo ano. Contudo, também é verdade que o Web Summit não é o que o ecossistema precisa, e sim o que o país quer exibir