As paywalls atingiram os media
Como antecipámos, nos últimos meses quase todos os principais jornais nacionais (e cada vez mais publicações especializadas) incorporaram “paywalls”, ou seja, sistemas de assinatura para aceder ao seu conteúdo. Tomam como modelo as experiências de outros países para rentabilizar o seu público, mas… este novo modelo está a funcionar?
Tipos de modelo de assinatura
O termo “paywall” (parede de pagamento, em tradução livre) engloba uma série de modelos de negócio que requerem pagamento (único ou recorrente) para acesso ao conteúdo. Este sistema tem sido adotado por muitos meios de comunicação social face à forte concorrência pela publicidade digital, sendo a maior parte do investimento destinado a motores de busca e redes sociais.
Os principais tipos de pagamento são:
- Assinatura: também conhecida como “parede dura”, requer uma taxa para aceder a qualquer conteúdo desse meio.
- Limite de leitura: por vezes chamada “parece macia”, permite ver um certo número de artigos sem pagar.
- Dinâmico ou freemium: oferece acesso gratuito a alguns conteúdos básicos, enquanto conteúdos de maior qualidade são pagos.
- Pontual: permite-lhe pagar para aceder a uma notícia ou a uma edição específica.
Confrontado com a rejeição das paywalls mais estritas, o modelo mais difundido é o de permitir o acesso a um número limitado de conteúdos por mês.
As paywalls noutros países
As paywalls como as conhecemos nasceram nos Estados Unidos em 1966. O The Wall Street Journal foi pioneiro na criação de uma assinatura para conseguir aceder a todo o seu conteúdo, que continua a ter sucesso mesmo depois de 15 anos (tem 3,2 milhões de assinantes). Nos anos seguintes, a maioria dos seus concorrentes seguiram os seus passos. O USA Today, o último dos grandes diários nacionais, anunciou este verão que estava a lançar um modelo de assinatura digital para aceder ao seu conteúdo.
A nível internacional, um estudo realizado pela Reuters, em 2019 em sete países, revelou que 69% dos jornais tinham algum tipo de sistema de pagamento para aceder ao conteúdo. Os jornais britânicos cobram as taxas mais elevadas (até 22€ por mês), enquanto na Alemanha três em cada quatro meios de comunicação social optam por um modelo freemium, e em França, jornais como o Le Monde, têm quase 200.00 assinantes digitais.
Paywalls em Espanha e Portugal
Em Espanha apesar de algumas experiências anteriores, as paywalls não se generalizaram até 2020. Foi então que El País lançou o seu soft paywall, o que lhe permitiu tornar-se o primeiro meio de comunicação espanhol a ultrapassar os 100.000 assinantes pagos. É seguido pelo El Mundo, com 80.000 assinantes digitais. Todos os principais jornais imitaram o modelo, sendo o La Vanguardia e ABC os mais recentes a implementar paywalls. Os meios de comunicação social regionais e a imprensa especializada estão também a ser atingidos.
Em Portugal, o diário Público tem vindo a cobrar pelo acesso a alguns dos seus conteúdos desde 2006. No entanto, só em 2020 é que este modelo se generalizou entre os principais diários do país. Jornais como o Expresso viram as suas subscrições digitais crescer 53% no último ano. A Santa Casa da Misericórdia, a instituição social que gere lotarias em Portugal, lançou uma iniciativa para financiar 20.000 assinaturas a oito meios de comunicação social (sete generalistas e um desportivo).
Conclusão: As paywalls estão aqui para ficar
A maioria das experiências de paywalls no passado, tanto em Espanha e Portugal como noutros países, falhou devido ao colapso de audiências online quando o pagamento era necessário para aceder ao conteúdo. No entanto, algo parece ter mudado nas estratégias dos media e na mentalidade do consumidor. Esta mudança começou nos países mais avançados, como os Estados Unidos e o Norte da Europa, mas está a espalhar-se como uma maré imparável aos jornais em todo o mundo.
É possível que alguns fenómenos, tais como a propagação de plataformas de vídeo a pedido, a explosão do consumo de meios digitais, causada pela pandemia ou a crescente rejeição da publicidade online pelos utilizadores, tenham influenciado esta mudança de tendência. Pagar por conteúdos de qualidade já não é tão estranho, se o fazemos com a televisão… porque não também com a imprensa? Portanto, as paywalls parecem estar aqui para ficar e a era de “tudo de graça” na Internet já passou.
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