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4 chaves para entender porque Andy Warhol foi um génio da comunicação há 60 anos

29 Abril 2022, By Ana Escudeiro Thomas, Account Executive na Canela

Andy Warhol (Pittsburgh, 1928 – New York, 1987) é um dos artistas mais influentes do século XX. O fundador da pop-art foi uma figura multifacetada como poucas, pois experienciou uma variedade de campos e formatos (pintura, fotografia, cinema, moda, entre outros) e esforçou-se por manter o seu estatuto na esfera pública, consciente da sua importância, durante os quase 30 anos que durou a sua carreira.

Há algumas semanas, lançou The Andy Warhol Diaries, uma série documental para descobrir um Warhol que vai para lá da sua famosa sopa Campbell. Nos media, não só conseguiu encontrar o seu lugar; como também foi capaz de antecipar muitos axiomas ainda presentes. “I never read I just look at pictures” é uma das suas frases mais conhecidas, pronunciada numa sociedade que não conhecia os smartphones, e muito menos o Instagram, o que serviu para defender a sua forma de entender o mundo até então.

Interview, a sua própria revista

Warhol fundou a revista Interview juntamente com o jornalista John Wilkok em 1969, como mais uma prova referente ao seu universo artístico. Enquanto os rostos mais reconhecidos da época, tais como Bob Dylan, Mick Jagger ou Truman Capote, eram visitantes regulares do The Factory, o icónico estúdio que se tornou no epicentro da vanguarda nova-iorquina, as primeiras páginas de uma peça que sobreviveu até 2018 começaram a ser publicadas. A publicação veio a tornar-se numa extensão da estética “warholiana”, onde as celebrities e as tendências culturais e artísticas da época marcavam o ritmo.

Além disto, a publicidade não só foi uma fonte de financiamento para a realização do projeto, como também cobria grande parte dos seus conteúdos. A criação da Interview significou também a chegada de um novo estilo jornalístico, a fórmula particular das entrevistas, com uma transcrição direta das palavras do entrevistado. Isto tornou-se para Warhol uma forma de se relacionar com determinadas personalidades e manter o contacto com as esferas mais importantes da sociedade ao longo dos anos.

Portada de Interview
INTERVIEW MAGAZINE (1985). Imagen: El País
Portada Int
Imagen: interviewmagazine.com

Saturday Night Live e um show na MTV

Consciente do impacto dos meios de comunicação de massa, o artista de Pittsburgh colaborou em vários espaços televisivos ao longo da sua vida. Uma das suas participações mais marcantes foi no Saturday Night Live, um formato tão famoso agora quanto era nos anos 80, ao qual assistia para refletir sobre diversos temas, sempre com a sua estética inconfundível e o seu sentido de humor peculiar. “In the future everybody will be world famous for fifteen minutes” era outro dos seus famosos slogans, uma previsão da instantaneidade e da viralidade que iria atrair as redes sociais algumas décadas depois. Sob esta premissa, também teve o seu próprio programa na MTV, com o nome Andy Warhol’s Fifteen Minutes, um espaço de encontro onde, novamente, tinha como convidados personalidades do momento.

Eventos até na Casa Branca

A sua presença em eventos públicos e na moda também se tornaram numa forma de manter a sua visibilidade. Ser retratado por Warhol tornou-se um desejo da socialité. Apesar do seu estilo inovador, ele não só conseguiu chegar às altas esferas, como também ganhou os seus aplausos. Carolina Herrera ou Elisabeth Taylor colocavam nas paredes fotografias autografadas, relações que nasceram dentro das paredes do mítico clube noturno Studio 54. Porém, dos lugares urbanos saltou para os eventos mais prestigiados, já que visitou a Casa Branca em cinco ocasiões, com três presidentes diferentes, apesar das suas conhecidas preferências pelos candidatos democratas.

Na década de 1980, surgiu uma forte corrente de arte de rua, onde se destacam nomes como Jean-Michael Basquiat e Keith Haring. Escreve nos seus diários sobre um episódio em que participam juntos nos prémios da MTV. Como ele conta, o jovem Haring passou a noite a tentar ser fotografado pela imprensa. Embora pareça uma piada, esta história é mais um exemplo do valor que os artistas atribuíam às suas relações públicas. Warhol estava aberto a novas correntes nos seus esforços para se manter no topo e, por sua vez, estas novas figuras queriam ter o pintor estabelecido ao seu lado, um win-win que alimentava o estatuto de ambas as gerações.

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STUDIO 54. Imagen: El periódico
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THE ANDY WARHOL FOUNDATION FOR THE VISUAL ARTS, INC. Imagen: El País

Influencer para os computadores Commodore

Naquela época, a Commodore era uma marca líder de computadores, concorrente da Apple, que procurava demonstrar as possibilidades artísticas dos seus aparelhos. Para isso, Andy Warhol tornou-se embaixador da marca num evento “revolucionário” de apresentação de produto, onde o artista podia ser visto a recriar algumas das suas obras destacadas através do clique de um rato. Atualmente, estas obras estão expostas no museu do artista e são um exemplo do seu compromisso constante com o progresso. Claro, ele não poderia imaginar como seria o mundo agora, mas vale a pena pensar em como seria Warhol como um influencer. Conseguiria recriar as suas fotografias através de um filtro de Instagram? Ou iria começar por um challenge com a sua sopa no TikTok?

Canela
Imagen: nicefucking.graphics

Definitivamente o seu legado é enorme, mas, para além da sua obra, a sua figura também representou uma forma revolucionária de ver o mundo. Há quem diga que a obra de Warhol representou o próprio Warhol, e não apenas porque numa determinada ocasião ele expôs a sua vida por trás do ecrã, mas também pela sua inegável visão sobre os media e sobre a forma como a opinião pública funcionava, e da importância que dava em valorizar a sua obra e a sua qualidade artística.

Lar
Imagen: Unsplash. Girl with red hat